O vento que, com leves carícias, me toca na cara e me envolve os cabelos soltos numa leve dança melancólica, traz consigo os mais belos sons deste lugar: a água que cai incessantemente, os grilos e os pássaros, as folhas das árvores que batem entre si pelo passar da aragem...
Tudo aqui parece estar diferente. Mais envelhecido. Mais solitário. A linha da água está mais baixa, as ervas menos verdes e o ar já não é tão fresco.
Penso como seria perfeito se tivesse menos dez anos. O fino medo que me passa pelas veias se dissolveria por entre as gargalhadas e pelos gritos de alegria seria abafado.
Quando fecho os olhos e me imagino em criança, aqui a brincar, lembro-me do quanto me divertia a saltar por entre as flores amarelo-vivo, agora poucas e tristes.
Vasculho a minha memória e, de forma involuntária, o meu corpo dá um pequeno salto, desenhando-se um pequeno e simples sorriso no meu rosto. Foram aqueles momentos de galhofa com o meu grande amigo de brincadeira que me passaram pela cabeça e que, por breves instantes, me fizeram sentir mais bem-disposta, mais feliz.
O sol já quase se pôs e deixou de iluminar estes campos. O frio apodera-se do meu corpo. O vento torna-se mais intenso e faz algumas lágrimas caírem-me pelo rosto.
Não. Não é o vento.
É esta saudade enorme, este sentimento tão português e, ao mesmo tempo, tão meu, que me aperta o coração!
Quero voltar a estar nos sítios que, como este, tornaram a minha infância mais feliz e marcante.
Quero voltar a ver o rosto daqueles com quem partilhei os momentos mais deliciosos da minha vida; os sorrisos, as descobertas...
Quero voltar a estar com vocês.
Quero voltar a estar contigo!